
O sol está a pôr-se, o mar parece um rio, É bom demais inspirar este ar perfumado pelo eucalipto, A paz surge em mim, como repentino calafrio, Sossego! Calo o meu incessante grito.
Olho o horizonte…como se esperasse algo que não vem, O chinfrim dos pássaros começa a cessar, Dando lugar apenas ao som do calmo mar, Olho em meu redor, estou só, apenas eu e mais ninguém!
Continuo a olhar o horizonte…deixo-me vaguear em pensamentos, Sinto-me tão cansada, que me faz questionar a minha própria existência, O que faço aqui afinal? Pois se para a minha presença não vejo argumentos, Sinto-me um ser miserável, impróprio…será isto fruto da minha carência?
Tenho tantas dores no corpo… Mas são menores que as que me atingem a alma, Por mais que eu faça, é sempre pouco… Parece que destruo tudo o que toco. Não há mérito, não há palma!
Agora pergunto-te meu Deus: O que devo fazer? Como posso melhorar-me? O que devo mudar em mim? Por favor Senhor, dai-me o teu parecer… Odeio sentir-me assim…
Todos os dias esforço-me no meu ganha-pão, E não consigo satisfazer suas exigências. Empenho-me no papel de mãe, de mente e coração, E sinto-me sempre aquém apesar das diligências.
Pensei ser boa companheira e amiga, Mas não o sou…estava errada! Não sei se sou eu a falar…ou se será o desespero e fadiga… Mas sinto-me comigo mesma tão zangada.
Entreguei-me a um novo amor com corpo, alma e paixão, Mas mesmo dando o meu melhor…transparecendo o que há em mim, Só faço sofrer quem mais amo, não passo de uma desilusão, Eu não quero que seja assim!
Deixa-me chorar mais um pouco…preciso aliviar a minha alma, Deixa-me sentir embalada por ti meu Deus, como quando era menina, Sempre Fostes o meu consolo…a minha calma, Nas horas mais difíceis, em que me sentia perdida e sozinha!
Queria tanto o calor de um abraço…sinto-me tão carente, Se tiver que ser sempre assim…fazei com que eu não mais exista, Já vi que o melhor que há em mim…não é suficiente… Se calhar não passo mesmo de um ser auto destruidor e egoísta!
A noite já caiu…fez-se um silencio apavorante, Enxugo as lágrimas, já me sinto mais serena, Olho as estrelas e o luar…que se exibem de uma forma deslumbrante, E perante tal beleza e imensidão…sinto-me insignificante e pequena. Ser pequeno…não me faz sentir infeliz, ou desfavorecida,
Sinto-me uma felizarda com aquilo que tenho…que alcancei, Os meus amigos, o meu amor, a minha filha, a minha vida… O que me deixa revoltada…é a felicidade que queria dar, e não dei.
Quero poder fazer mais e melhor…quero ir mais além e sinto que não consigo… E é isso que me faz sentir falhada como mãe e mulher… É por isso que sou uma anjinho perdido!
(Vânia Brasil)
|